Canto

 

Os gorgeios maravilhosos dos canários chegam ao máximo da perfeição com o Canário 
de Canto, o mais hábil e requintado da espécie. São oito variações sonoras com o bico 
fechado. Uma sofisticação!  
A trajetória de sucesso da espécie começou há cerca de 500 anos, quando seu 
ancestral, o Serinus canarius, encantou a Europa trazido por navegadores que o 
descobriram nas Ilhas Canárias, da Espanha. Após 5 séculos de criação, evoluiu a ponto 
de se tornar uma ave de estimação de grande popularidade. Ganhou também atrativos 
adicionais graças á fixação de mutações e ao aprimoramento genético, com variedades 
em cada uma das três qualidades mais valorizadas nos pássaros: canto, cores e porte.  
Para os criadores que desejam dedicar-se à criação destas raças de canários, um dos 
principais cuidados a ter é com o regime alimentar, diferente do de todas as outras 
raças. A semente de nabo constitui na sua alimentação, o principal elemento. Outra 
preocupação do criador é o ensinamento dos pequenos canários para o canto, que exige 
um trabalho paciente e dedicado.  
As aves são colocadas em pequenas caixas individuais (vinte e cinco centímetros de 
comprimento e vinte centímetros de fundo e altura) diante de um canário velho que 
funciona como "professor", havendo quem utilize disco ou gravação magnética. Quando 
atingem os dois meses, os canários começam a esforçar-se para cantar, sendo a altura 
ideal para os separar e colocar em pequenas gaiolas, chamadas de canto, iniciando-se o 
ensinamento. O canário cantor aprende por imitação, tornando-se indispensável para 
uma boa aprendizagem a existência de um bom "mestre", de que vai depender 
significativamente a qualidade do canto do "aluno".  
Achamos de toda a vantagem que a aprendizagem seja natural, isto é, que canários 
novos tenham como professor um canário velho, já experiente e bom cantor. No 
entanto, com o aparecimento de novas técnicas como já referido, há quem utilize outros 
meios, não nos competindo a nós contrariar esta opção.  
As pequenas gaiolas são colocadas em prateleiras, num local pouco iluminado e 
tranqüilo para que os canarinhos estejam calmos e concentrados. O "mestre", 
normalmente,  é colocado o mais central possível, de modo a ser bem ouvido e visto 
pelos seus "alunos".  
A aprendizagem consta, geralmente de uma ou duas lições pela manhã, uma ou duas 
pelo meio do dia e mais uma ou duas pelo fim da tarde dependendo muito,  da 
orientação ou metodologia do criador. A operação se repete por um período de dois a 
quatro meses, numa aprendizagem completa.  
Para ter um bom Canário de Canto, adote alguns cuidados básicos. Ao comprar, procure 
um criador indicado por um Clube Ornitológico. Escolha o exemplar de canto mais 
agradável e melodioso segundo o seu gosto (lembre-se: só o macho canta). Prefira 
adquiri-lo com pelo menos 3 meses, quando começa a cantar. Atingirá o seu ápice com 
1 ano de idade. A fêmea pode ser comprada com qualquer idade - com 1 ano está apta 
à reprodução.  A compra pode ser efetuada nos canaris, em lojas especializadas e em exposições, onde 
se pode assistir aos concursos. É normal o comprador ouvir o canto antes de fechar 
negócio, seja de alguns canários específicos como em grupo.  
Apesar das fêmeas não cantarem, não descuide de uma boa escolha. Devem ser 
saudáveis, alegres e um pouco mais gordinhas que os machos.  
 
CANTO ROLADO  
 
Por volta de 1700, próximo às montanhas de Harz no coração da Alemanha, foram 
observados alguns canários que cantavam de forma diferente, com um som "rolado", 
exclusivo, produzido com o bico fechado. A novidade conquistou apreciadores por todo o 
mundo e tornou-se conhecida como Roller (rolador, em alemão). Entre os Canários de 
Canto, é o que canta com um tom mais suave, tanto nos agudos como nos graves. Há 
mais duas variedades ainda não criadas no Brasil: a Timbrado Espanhol, com canto mais 
estridente (som "campainha"), e a belga Malinois, de som intermediário. 
O canto rolado é exclusivo do Roller. Quanto mais grave o tom, maior o seu valor. É 
possível perceber oito sutis variações nas suas execuções vocais, adquiridas por herança 
genética. Essas variações são chamadas de tours (jeitos), denominadas de forma 
bastante sugestiva: as tours básicas são a Hohlrollen (rolado oco), Knorren (baixo), 
Hohlklingeln (campainha oca) e Pfeifen (flauta) e as demais, ditas "de adorno", são a 
Wassertouren (jeito de água), Schockeln (a tradução que mais se assemelha é 
"gargalhada"), Glucken (galinha choca) e Klingelstouren (campainhas). Em geral, o 
Roller intercala todas as tours básicas com uma ou duas de adorno, estilo que pode ser 
aprimorado com a prática do canto. Por isso, o treino é importante para os exemplares 
que participam de competições. Algumas combinações produzem exibições de alto valor, 
como as Wassertouren mescladas com as Hohlrollen ou as Knorren. As tours de adorno 
misturadas sem critério reduzem o valor do canto. O que diferencia uma tour da outra é 
o som desdobrado em consoantes, que as identificam, e vogais que lhe dão o valor. As 
vogais valorizadas são a "u", "o" e "ü" (som de "u" fechado, como na língua francesa). 
As demais são de pouca expressão ou até mesmo depreciativas. 
Além da cor verde, herdada do ancestral Serinus, o Canário de Canto ganhou novas 
colorações com o correr do tempo: verde pintado de amarelo; amarelo; branco e cinza. 
Até uma variedade de topete apareceu.  
O tom do canto muda um pouco dependendo da cor do Canário. Por isso, nos concursos, 
o verde, o amarelo e o pintado são julgados em um grupo. O branco, o cinza e o de 
topete em outro; às vezes, o de topete em separado.  
Há quem denomine de Roller os Canários de Porte ou de Cor, mas é incorreto - o canto 
"rolado" é característica exclusiva do Canário de Canto. TIPOS DE CANTOS 
O canto dos Rollers tem oito variações identificadas pelo som das consoantes vogais que 
o compõem.  
• Hohlorren (rolado oco) - Consoante: "r" branco - dá o caráter rolante. Vogais "u", 
"o" e "u".  
• Knorren(baixo) - Consoante inicial ( no início da tour): - "k" ou "g". Consoante: 
"rr". Vogais: "o" e "u".  
• Hohlklingeln(campainha oca) - Consoante: "l". Vogais: "ü", "o" e "u".  
• Pfeifen (flauta) - Consoante: "d". Vogais: "i", "ü", "o", "u" e "au".  
• Wassertouren (tour de água) - Consoante dupla: "bl" ou "wl" Vogais: "ü", "o" e 
"u".  
• Schockeln (gargalhada) - Consoante: "h" (expirado e suave). Vogais: "a", "ü", "o" 
e "u".  
• Glucken (galinha choca) - Consoantes iniciais: "gl" e "kl". Consoantes finais: "c", 
"k" e "ck". Vogais: "ü", "o" e "u".  
• Klingeltouren(campainhas) - Consoantes: "l" e "r". vogal: "i".  
QUARTETOS 
Os concursos de canto são uma curiosidade à parte que agita o mês de junho no Brasil. 
Dois meses antes, o Roller começa a ser treinado. Deve aprender a se apresentar a 
qualquer hora e na presença de pequeno ou grande público. Os melhores cantores são 
escolhidos a partir de quartetos ou duplas, essas últimas criadas recentemente. A sala 
de julgamento é pequena, com boa acústica, 22°C de temperatura e iluminada 
artificialmente. Cada pássaro se apresenta em uma gaiolinha individual, aberta meia 
hora antes para ele comer e beber. Se um mais afoito cantar antes da hora, é 
interrompido. Para o julgamento, quatro ou duas gaiolas são empilhadas sobre uma 
mesa. A apresentação dura 30 minutos, observada a um metro de distância, 
aproximadamente, pelo juiz. O silêncio deve ser tal que somente os Rollers sejam 
ouvidos. Os juízes, que estudam a fundo a chamada Teoria de Canto Clássico, avaliam o 
repertório; a intensidade do canto; a perfeição da apresentação; a emissão do som 
ascendente ou descendente, lenta ou rápida; a transição de uma tour para outra e a 
pureza do som nas tours básicas. Consideram também os pontos negativos que são 
chamados de "tours de depreciação". Os prêmios vão para o melhor quarteto ou dupla e 
para o melhor cantos.  
Os machos que já terminaram a muda, nascidos de agosto a dezembro, são colocados 
na gaiolinhas individuais de canto. Elas são postas em estantes, uma ao lado da outra, 
em um quarto na penumbra, situação que mais estimula o canto. Como cortina, usa-se 
um tecido de algodão opaco, de cor escura, não muito grossa, para não impedir a 
ventilação. Após a adaptação, período de uma semana a dez dias, uma divisória de 
madeira entre as gaiolas evita que o macho veja outro e desenvolva cantos de briga, 
sem valor para os concursos. Mantidos na penumbra, os canários cantam e exercitam os 
quatro tours básicas espontâneamente. Quando estiverem cantando de maneira 
vigorosa e constante, o próximo passo é fazê-los cantar somente se quisermos. Mais 
uma cortina opaca é usada, dessa vez na estante, para o canário ficar no escuro e
parar de cantar quando for fechada. Abre-se a cortina diversas vezes ao dia durante 30 
minutos. Ao verem a luminosidade, os pássaros exibem todo o seu canto. É uma fase 
preciosa de acompanhamento do progresso dos "alunos", quando se aprende também a 
perceber as variações do canto do Roller e a acostumar o ouvido a reconhecer as tours. 
Com o treino, o Roller tende a definir uma seqüência da preferência dele. Esse é o 
momento de começar a empilhar as gaiolas sobre uma mesa para simular o julgamento 
dos quartetos ou duplas. O exercício é feito diversas vezes ao dia, por uma hora, até a 
véspera do concurso.  
A cada 15 dias, os canários devem ser postos em uma gaiola "voadeira", durante três 
horas, para exercício físico e banho. A oportunidade é aproveitada para a limpeza das 
gaiolinhas e da estante. Atenção com os machos que estão na voadeira: os briguentos 
devem ser separados dos demais. 
O canto é determinado pela genética e aprimorado pelo exercício. Alguns livros e outros 
criadores sugerem influenciá-lo com o canto de outros Rollers e indicam o uso de 
pássaros-mestres e discos para esse fim. Entretanto, a maioria dos criadores considera 
esse método pouco ético por desvirtuar o canto característico de cada ave.  
Para quem tem um casal em casa, há algumas dicas para estimular o macho. Ele poderá 
cantar na maior parte do dia, o ano todo, se o ambiente for estimulante ao canto.  
A motivação é maior quando o ambiente está iluminado e há uma fêmea por perto, cuja 
presença ele pressinta ou veja. Através do jogo da claridade e da escuridão, é possível 
concentrar o canto em determinados períodos de tempo e fazê-lo mais vibrante. No 
escuro, cantará pouco e baixo. Para ouvi-lo cantar entusiasticamente, basta acender a 
luz. Na época da procriação, a tendência é cantar mais. Porém, se for colocado na 
mesma gaiola da fêmea, o seu canto diminuirá bastante. Se você tiver mais de um 
macho, o ideal é que um não veja o outro, para não desenvolverem o canto de guerra, 
que é pouco atrativo. Quando um não vê o outro, basta um cantar para que os demais 
se sintam estimulados a fazê-lo.